25.8.15

Stéphane Mallarmé: "Brise marine" / "Brisa marinha": trad. Guilherme de Almeida




Brisa marinha

A carne é triste, e eu li todos os livros, todos.
Fugir! Além! Eu sei que há pássaros já doidos
Por se ver entre os céus e a espuma do alto-mar!
Nada, nem os jardins refletidos no olhar,
Retém meu coração que já no mar se aninha,
Nem, ó noites, a luz da lâmpada sozinha
Sobre o papel vazio, intangível de brilho,
E nem a mulher moça amamentando o filho.
Hei de partir! Vapor de mastros oscilantes,

Ergue a âncora para regiões extravagantes!
Um Tédio desolado, entre anseios intensos,
Ainda acredita no supremo adeus dos lenços!
E esse mastros, talvez, cheios de maus presságios,
São dos que um vento faz vagar sobre os naufrágios
Sem ilhas férteis e sem mastros de veleiros…
Mas, ó minha alma, ouve a canção dos marinheiros!



Brise marine

La chair est triste, hélas ! et j'ai lu tous les livres.
Fuir ! là-bas fuir! Je sens que des oiseaux sont ivres
D'être parmi l'écume inconnue et les cieux !
Rien, ni les vieux jardins reflétés par les yeux
Ne retiendra ce coeur qui dans la mer se trempe
Ô nuits ! ni la clarté déserte de ma lampe
Sur le vide papier que la blancheur défend
Et ni la jeune femme allaitant son enfant.
Je partirai ! Steamer balançant ta mâture,

Lève l'ancre pour une exotique nature !
Un Ennui, désolé par les cruels espoirs,
Croit encore à l'adieu suprême des mouchoirs !
Et, peut-être, les mâts, invitant les orages,
Sont-ils de ceux qu'un vent penche sur les naufrages
Perdus, sans mâts, sans mâts, ni fertiles îlots ...
Mais, ô mon coeur, entends le chant des matelots !



MALLARMÉ, Stéphane. "Brise marine". Trad. de Guilherne de Almeida. In: ALMEIDA, Guilherme (org.). Poetas de França. São Paulo: Babel, s.d.


Um comentário:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


grato por publicar esse belíssimo poema de Mallarmé!


Abraço forte,
Adriano Nunes